quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Finais de 2001 (muito tempo atrás) inicio de 2002

Estávamos no final de 2001... era o auge da minha carreira futebolistica, aquela altura em que se chega à conclusão se somos bons a jogar à bola, se é um passatempo, ou se estava ali a fazer merda nenhuma... treinos durante a semana e foi num desses a meio da semana, que comecei a ter umas dores muito fortes na perna esquerda, o que fazia com que caísse quando me apoiava para rematar.
Após aquecer aquilo passava, e no banho estava completamente sem dores... mas ao chegar a casa e arrefecer o corpo, as dores voltavam e cada vez mais fortes.
Comecei a faltar aos treinos cada vez mais, porque não ter forças nas pernas e querer jogar é um bocadinho dificil...
Já em 2002, continuei a ter dores e vendo que isto não passava fui ao médico que fez o papel dele, diga-se, e mandou fazer uns raio-x, tirar sangue, coisas do costume....
Até chegarem os resultados ainda se passaram uns dias, período no qual já andava com o apoio de uma muleta, pois as forças, não as havia...
Finalmente era dia de ir saber os resultados dos exames e o sr. dr. chegando lá, disse que não havia nada de especial que justificassem aquelas dores, então despachou-me para outro médico, este já em Évora, chamado Dr. Carlos Abranches especialista em ossos (é incrivel como se lembramos destas coisas, quando não me lembro de pessoas com quem passei mais tempo...), onde mal apresentei as minhas queixas, mandou-me ir a Lisboa, fazer uma cintigrafia óssea, ressonância magnética e mais um raio-x, pra ter algo igual ao outro pra comparar...
Aceitei tudo na boa, sem problemas, nem suspeitas de nada, afinal que ia um puto de 13 anos dizer?
Chegado o dia de ir a Lisboa, ainda demorei um tempo com os meus pais a encontrar o sitío onde se fazia a Cintigrafia, mas quando o encontrámos, lá entrei, esperei um bom bocado, bebi um liquido estranho... e deitei-me na máquina umas boas horas!
Saí dali e ainda tive tempo de ir passear ao Campo Grande (ao pequeno só fui em 2009 ver o grande grande Jason), com o meu pai. Mais uma semana e qualquer coisa depois, lá o Dr. Abranches me chamou e assim que a minha mãe lheu deu os exames para as mãos, ele abre com todo o cuidado, tira para fora... dá uma vista de olhos e sem mais nem menos diz para mim e para ela: "O seu filho tem de ir imediatamente para Coimbra"
Eu fiquei contente, nunca pensei que fosse nada de especial e até podia ver uma cidade que nunca tinha visto, mas a minha mãe mal eu saí de lá, voltou lá para dentro com cara de poucos amigos e perguntou ao médico se havia motivo para preocupações, ao que ele lhe respondeu que em princípio não e que seria inicialmente por precaução.
Isto já deve ter sido algures em finais de Fevereiro, pois em Março tive a primeira consulta em Coimbra... viagem longa onde dormi desde o Telheiro até Condeixa, que fica a uns 12km de Coimbra. Chegado lá, atendeu-me o Dr.Portela, grande homem, grande mesmo.. cerca de 1,90m!
Após as coisas básicas.. de onde vem... o porquê de lá ir... mostre lá a perna então... ele mandou fazer mais exames, pois já sabia o que era, mas não me disse nada, sem fazer os exames. Voltei a Évora e acho que Lisboa também ( perdoem a falta de precisão, mas já foi à uns bons anos).
Mais uns exames depois e dia 18 de Março estava de volta a Coimbra para uma consulta com o Dr.Paulo Tavares.

Chegado ao Hospital da Universidade de Coimbra perguntei onde eram os pavilhões de Celas, um segurança lá nos indicou e lá seguimos nós o caminho... já agora se algum dia lá forem, os pavilhões são do lado direito do Hospital =)
Já era depois de almoço quando finalmente chegámos ao quartel-general do Dr. Paulo.
Um edificio bastante velho com um hall de entrada umas escadas à frente e um elevador do lado esquerdo, um pouco escondido...
Se eu tivesse um pouco de juízo na altura e tivesse lido as placas, já sabia ao que ia... mas nada.. contente da vida, lá ia eu sem preocupações...
Subidas as escadas, temos uma mini sala de espera e depois um longo corredor de uma ponta à outra do edificio, na ponta da direita está o gabinete do Dr. Paulo.
Chegámos, esperámos um pouco e então lá ele nos mandou chamar...
Nesse grande corredor, estão quartos dum lado e do outro cheios de doentes internados, mas nem me lembro de olhar para lá nem de relance nem nada!
Quando ia a entrar ia outro rapaz a sair... e quando saiu ia lavado em lágrimas... pensei que aquilo fosse uma consulta á próstata ou algo assim!
Entrámos e ainda me lembro...
Dr. Paulo sentado, a secretária dele atrás dele encostada à janela com a sua ficha de apontamentos, eu sentei-me no meio, o meu pai à esquerda e a minha mãe à direita.
Começamos outra vez pelo básico, como estás, de onde vens... idade... já perceberam, o básico!
Após dois dedos de conversa, disse logo à descarada...
"Helder, tens cancro"
Finalmente nesse momento acho que ganhei consciência e a felicidade de estar numa cidade nova, bem como toda a descontracção, foram por água abaixo.
É incrível como uma frase tão pequena consegue mudar tanto o nosso humor e mesmo a nossa vida...
Já se imaginaram a mudar a vossa vida assim? Terem de deixar os amigos, a namorada, a escola, a vida que conhecem? Não é para terem pena ou algo parecido, é mesmo só para imaginarem! =P
Após essa reveladora frase, as dores finalmente fizeram sentido, a perda de forças e tudo o resto...
Cerca de 5 segundos após ele ter dito isso, comecei a chorar como nunca antes o havia feito, o meu pai não se ficou atrás... nunca tinha visto aquele homem de 44 anos, ao qual tenho o orgulho de chamar pai a chorar como chorou naquele dia... tanto ele como eu, ambos soluçávamos...
Mas houve algo que me espantou.... a minha mãe, naquela tarde de grande notícias, foi a única que não verteu uma única lágrima... limitou-se a pôr com olhos a brilhar, concentrada no que o Dr. estava a dizer e não chorou naquele dia, pelo menos à minha frente...
É nestes momentos que damos valor a tudo o que temos e vemos a força que os nossos pais têm e até onde estão dispostos a ir, e a aguentar, pelos seus filhos...
Posso afirmar que ela foi a mais forte de todos nós, foi ela que realmente teve os tomates necessários para aquilo!
Já não lembro que mais ele disse após aquela frase... algo como "tens de ficar em Coimbra hoje para fazeres uma mini-cirurgia", esta, onde te põem um cateter acima da mama, para posteriormente te mandarem a quimioterapia para o corpo, sem necessitarem de espetar o braço cada vez que tens de a fazer, senão estava pior que um drogadão anónimo!
Após sair do gabinetea tentar esconder as lágrimas, comecei a habituar-me ao estar doente e precisar de ter uma pausa da minha vida, para tratar de mim mesmo.
Já fora do edificio, os meus pais fizeram as chamadas familiares necessárias a avisar o resultado da consulta, e eu ainda em lágrimas, telefonei à minha irmã que ia ter teste de história (mais uma daquelas lembranças inesplicáveis...), para lhe contar do sucedido... lembro-me ainda como se fosse hoje... eu a dizer que tinha cancro na perna, ela a chorar e as amigas dela a chamarem por ela, pois entretanto ela tinha corrido para o wc a chorar sem ninguém saber porquê...
Ela não chegou a fazer o teste e eu fiquei em Coimbra sozinho, já que os meus pais não tinham nada preparado para ficarem comigo la.
E pronto, esse fatídico dia chegou dia 18 de Março, 15 dias após eu ter feito anos... chegou quase como, prenda de anos mórbida muito atrasada!
Instalei-me no meu quarto... e comecei a fazer novas amizades no quarto nº1, que tinha 6 camas, numa delas estava o Bruno, rapaz de 20 e tal anos que viria a ser importante, não, muito importante para mim... mas isso é algo para partilhar depois....
Até à próxima operação! =P (a Canuka não ajudou no final)

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Prefácio

Para começar, começa-se sempre pelo início, pelo começo, pela partida, pelo prefácio!
Sempre gostei de escrever e sempre me disseram que devia escrever... a Ana principalmente! E como escrever um livro está nos sonhos de um Homem (segundo o Alex), não que isto tenha por finalidade ser um livro, apenas palavras ordenadas que até podem fazer algum sentido no final.
Seguirei por capítulos, quem sabe até aos dias de hoje (logo se vê), e pronto.
Não sou mais que ninguém, talvez até menos que muitos, mas se tenho as possibilidades de o fazer e já que é uma coisa que gosto, vamos lá andar com isto...




"Hapinness only real when shared"




Qual o critério que Deus (ou quem quer caralho que seja que decida as nossas vidas...), usa para definir quem tem de sofrer, quem tem de não sofrer, quem tem de ganhar, quem tem de perder, neste bocado de tempo que temos aqui nisto a que chamam Terra?
Ora, podemos ir pelo facto de que quem faz mal merece ser castigado, mas se assim for porque há tanto "malvado" aqui que continua a "malvadar" e a sair impune?
Se formos pelo lado do karma, "what goes around, comes around", mas também nunca fui muito de acreditar nisso, nem tenho grandes provas disso...
Seguiremos então pela teoria de mal acabemos de nascer já temos a vida toda detalhada e as escolhas que supostamente fazemos, já estavam feitas à muito muito tempo...
Sempre fui menino bom, roubei uma vez um maço de tabaco por volta dos 9 ou 10 anos, mas acho que não foi por isso que Ele me deu isto, se não foi por isso... talvez seja por não ter ido muito à catequese ou não ir muito à missa, mas pelo contrário, há milhões de pessoas que não vão à missa... então.. porque não elas em vez de eu?
Acho que sempre fiz essa pergunta, e às vezes admito que ainda a faço...
E no final dos prefácios dedicam-se os livros sempre a alguém certo? Mas já que não é um livro, mas sim a treta de mais um blog por aí fora, não há dedicatórias.. por agora!